O livro Gente x Mato, quarto do fotógrafo Pedro Martinelli, que sendo lançado nesta terça-feira, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, é uma tentativa de puxar o "fio da meada" para entender o processo de destruição da floresta amazônica. De acordo com o autor, que fotografa a região desde 1970, a obra retrata a degradação ambiental "muito além do simples desmatamento".
"É a pesca indiscriminada, a tartaruga que o caboclo cata para trocar pelo óleo diesel do seu gerador de energia, é o lixo que se acumula sempre onde o ser humano está", explica Martinelli.
Segundo o fotógrafo, a coleção de imagens pode ser considerada "uma das mais sombrias" de sua carreira, já que não deixa margem para as ilusões confortáveis de quem vive na cidade, conceitos abstratos como "turismo ecológico" e "exploração sustentável da floresta" que, em sua avaliação, "não funcionam na prática". "A presença cada vez maior do homem no ecossistema da mata implica em destruí-la", advertem seus cliques.
Apesar do realismo cáustico, Martinelli acredita que é preciso criar condições para uma ocupação menos hostil da Amazônia. Isso se traduz, de acordo com ele, em formas de geração de renda para o caboclo (habitante da mata) e o índio.
O fotojornalista se vale, como fonte de motivação para seguir retratando a Amazônia, do desconhecimento do brasileiro urbano a respeito de um dos maiores tesouros naturais do Brasil.
"Eu olho para as pessoas dentro de seus carros parados na avenida Paulista e penso 'estes caras não têm a menor idéia do País em que vivem'", diz.
Este desconhecimento se reflete no momento em que resolvem conhecer a região. "O cara vai para Manaus achando que vai ver bicho, mas pode navegar pelo rio Negro por dias e dias sem ver animal algum. Ele vê o índio com uma bermuda Adidas e acaba tendo um choque", exemplifica.
A intimidade do fotojornalista com a Amazônia tem origem em sua infância, em Santo André, no Grande ABC Paulista. O programa de fim de semana era sair para caçar com seu pai na Mata Atlântica. "Sou um mateiro desde sempre, meu ambiente é a floresta", diz.
Entre seus registros mais importantes na Amazônia, o primeiro contato entre os índios Panará e o homem branco. Ganhador de diversos prêmios, faturou em 1996 o Esso de Jornalismo na categoria Informação Científica, Tecnológica e Ecológica. Trabalhou para o jornal O Globo, para a revista Veja e outras publicações da Abril.
(Terra Notícias)