Com uma mensalidade de R$ 2.756 para o último ano do Ensino Médio, a escola com maior pontuação no Enem 2009 tem uma fila de interessados. Localizado no bairro de Campo Belo, na Zona Sul de São Paulo, o Colégio Vértice saltou do 10º lugar no ranking nacional em 2008 para a escola com o melhor desempenho no exame em todo o país no ano passado. Quem conta o segredo são seus alunos. “Aqui, quem não estuda é estranho”, dizem jovens entrevistados pelo G1.
O Vértice tem, atualmente, 900 alunos e uma relação de cerca de 10 candidatos por vaga. Mas nem sempre foi assim. Adilson Garcia, um dos diretores da escola, conta que a procura aumentou bastante desde 1994, quando voltou ele a trabalhar no colégio. “Todo reinício de um novo ano, fazíamos figa para tentar aumentar um pouco o número de alunos. E como era difícil. O grande sonho era conseguirmos chegar em 600 alunos. Quando o pessoal do Inep começou a divulgar os resultados do Enem, você não imagina a loucura que passou a acontecer para tentar colocar os filhos aqui”, contou.
Por causa da grande procura, a administradora de empresas Simone Donadel, de 38 anos, decidiu se antecipar. Ela já preencheu a ficha de inscrição para a filha começar a estudar no Vértice em 2014. Luísa só nasce em agosto deste ano. “O Vértice é uma escola que a gente sabe que tem essa concorrência. E é uma questão de conveniência, porque é perto da nossa casa”, disse. Simone também avalia outras escolas, mas quis ter a possibilidade de escolha. O outro filho dela, de 3 anos, tem uma pré-reserva no colégio para iniciar os estudos em 2013. “Minha ideia é ter os dois na mesma escola”.
A seleção para os alunos da educação infantil é por ordem de chegada. Começar a estudar em outras séries, no entanto, é um pouco mais complicado. “Tem gente que fica tentando entrar aqui por três anos seguidos”, contou Garcia. Ele conta que o primeiro critério de escolha é se a criança tem irmãos estudando no colégio. O segundo, se os pais foram alunos do Vértice. Depois disso, caso não sejam preenchidas todas as vagas, um dos diretores conversa com as famílias interessadas e os candidatos a alunos passam um dia na escola. Se os profissionais avaliarem que muitas crianças apresentam o perfil do colégio, é feito um sorteio. “Muitas vezes dói ver as pessoas eliminadas por sorteio”, confessa o diretor. Ele garante que não há vestibulinhos para preencher as vagas.
O Vértice acumula bons resultados no Enem. O colégio foi o mais bem colocado na capital paulista em 2008 e o 2º no estado. Desde 2005, ele se mantém entre as melhores escolas do Brasil. Para Garcia, os resultados são um prêmio, mas não um objetivo. “É muito importante como você encara isso tudo. Senão, acaba fazendo mal para a instituição como um todo. Para nós, o resultado do Enem é um prêmio, nada mais do que uma consequência de um trabalho muito sério que acontece por aqui”, acredita. Segundo ele, não há nenhuma preparação específica para o exame. Os alunos, no entanto, costumam fazer as provas antigas entre os simulados para o vestibular.
No Enem de 2009, os outros melhores colocados no estado de São Paulo foram: Integral Colégio EED Básica Alphaville, de Campinas, Colégio Móbile, na capital paulista, Integral Colégio, em Itatiba, colégios Santa Cruz e Bandeirantes, em São Paulo.
Concentrados nos estudos - O diretor acredita que um dos pontos positivos da escola é o incentivo ao hábito de estudo. “Eu diria que um dos grandes diferenciais que nós temos aqui é esse trabalho que fazemos para que os alunos criem hábitos de estudo. Para não ficar aquela história de só se dedicar aos conteúdos e conceitos em épocas de provas bimestrais”, conta. Para aproximar professores e alunos, as salas são menores. No último ano do Ensino Médio, são cerca de 30 estudantes por sala. “Nós exigimos que cada professor conheça o máximo possível cada um de seus alunos.”
A estrutura física das salas facilita essa proximidade. O Vértice aboliu a “turma do fundão”. “Nós sempre tentamos aqui na escola evitar aquela disposição de cadeiras com o ‘fundão’. Você trabalha com, no máximo, quatro fileiras de carteiras. Em muitas salas, nem tem mesa de professor. Então ele, mesmo na hora dos exercícios, tem que estar circulando entre os alunos”, diz. O estudante Fernando Vilela, de 17 anos, afirma que isso facilita os estudos. “Aqui está todo mundo centrado nos mesmos objetivos, não tem bagunça”, conta. Ele cursa o 3º ano do Ensino Médio.
Daniel Tong, de 17 anos, aluno do mesmo ano, concorda. “As pessoas aqui têm mais responsabilidade, gostam de prestar atenção na aula”, afirma. André Bianco, da mesma série e idade, vai além. “O que eu gosto mais do colégio é estar cercado de pessoas que são iguais a mim e gostam de estudar”, acredita. Para o estudante Renan Rodrigues Modesto, o resultado no Enem não surpreende. “É o esperado, pelo que a gente faz. Nossa grade é bem pesada”, diz o jovem de 17 anos.
Os alunos do último ano têm a carga horária mais puxada da escola. Estudam de segunda a sexta-feira em dois períodos: das 7h15 às 12h45 e das 14h às 19h. No sábado, voltam para o colégio, para aulas de reforço e simulados. Eles também pagam as mensalidades mais caras, R$ 2.756. Nos dois primeiros anos do Ensino Médio, os pais pagam R$ 2.253. No 1º ano do Ensino Fundamental, o valor é de R$ 1.330.
O diretor diz que, nesse preço, estão inclusas as apostilas usadas durante as aulas. Em parte do Ensino Fundamental e em todo o Ensino Médio, a escola adota o material do Sistema Uno. Nas outras séries, há apostilas próprias desenvolvidas por profissionais do colégio. O Vértice tem 86 professores, 25% deles com mestrado. “Existe um interesse muito grande da nossa parte em que esse número aumente. Tanto que a escola banca o pagamento de mestrado ou outra coisa similar”, afirma o diretor.
Apesar dos simulados e da carga horária aumentada no último ano do Ensino Médio, Garcia não gosta de dizer que o vestibular é um objetivo educacional do Vértice. “Nós temos na escola, para cada um dos nossos alunos, o que nós chamamos de projeto de vida. Nesse projeto acontece uma das etapas, que é o vestibular. Então, ele é uma consequência.”
Os alunos têm atividades extracurriculares como: sapateado, culinária, coral, leitura interpretativa, xadrez e aulas de alemão. G1
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