A seca está matando as árvores do frágil ecossistema da floresta amazônica no Brasil, exaurindo as reservas de carbono da região - um duplo desastre ecológico, com consequências devastadoras, de acordo com um estudo divulgado nesta quinta-feira.
Ao longo de um ano típico, a vegetação da Amazônia absorve aproximadamente dois bilhões de toneladas de dióxido de carbono, um dos gases causadores do efeito estufa, diretamente responsável pelo aquecimento global.
A pesquisa, publicada na revista Science, foi realizada durante 30 anos.
Os cientistas descobriram que a maior floresta tropical do planeta é surpreendentemente sensível às secas, e que os prejuízos causados terão um impacto ainda mais grave do que o calculado anteriormente no que se refere ao efeito estufa.
As árvores que cobrem a Amazônia absorvem quantidades gigantescas de gases causadores do efeito estufa, mas geralmente sucumbem diante dos primeiros efeitos da seca. Ao morrer, deixam de recolher os gases tóxicos, colaborando para o aumento do buraco na camada de ozônio - e acelerando o aquecimento global.
A seca também devasta as reservas de carbono da região, estoques naturais que acumulam e guardam o CO2 por longos períodos.
Os pesquisadores afirmam que o impacto total de uma seca significaria mais cinco bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera - mais do que as emissões anuais do Japão e da União Européia juntas.
O estudo, realizado a partir de uma parceria com mais de 40 instituições em todo o mundo, analisou em particular a forte seca que castigou a Amazônia em 2005, inutilizando décadas de absorção de carbono pelas árvores, segundo os biólogos.
"Há anos, a floresta amazônica ajuda a reduzir as mudanças climáticas. Mas depender apenas desse auxílio da natureza é extremamente perigoso", destaca Oliver Phillips, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido, principal autor do trabalho.
"Se as reservas de carbono da Terra diminuírem ou começarem a ser liberadas, como nossos resultados mostram ser possível, os níveis de dióxido de carbono aumentarão ainda mais rápido. Serão necessários cortes ainda maiores nas emissões globais para estabilizar o clima", indica o pesquisador.
Visualmente, a maior parte da flora amazônica não demonstra os efeitos da seca. "Mas nossos registros provam que a quantidade de árvores mortas aumenta", afirma.
"Por ser tão vasta, a região apresenta pequenos efeitos ecológicos que podem aumentar e resultar em um grande impacto no ciclo de carbono do planeta", explica Phillips.
Os cientistas afirmam que a Amazônia corresponde a mais da metade da floresta tropical do mundo, com uma área 25 vezes maior que o território do Reino Unido.
O estudo, que teve a colaboração de 68 cientistas de 13 países diferentes, revelou também que várias espécies de palmeiras tropicais são especialmente vulneráveis às secas, o que sugere um risco enorme à biodiversidade causado pelas mudanças climáticas. AFP