'La teta asustada' leva Urso de Ouro em Berlim

O filme "La teta asustada", da peruana Claudia Llosa, ganhou neste sábado o Urso de Ouro da 59a. edição do Festival de Berlim, enquanto que o Urso de Ouro de melhor direção foi para o iraniano Iraní Asghar Farhadi por "About Elly".
A austríaca Birgit Minichmayr ganhou o Urso de Prata de melhor atriz por seu papel em "Alle Anderen" (Todos os outros), do alemão Maren Ade, e ator malinês Sotigui Kouyaté, protagonista do filme "London River", do franco-argelino Rachid Bouchareb, levou o Urso de Prata de sua categoria.
Claudia Llosa, de 33 anos, a mais jovem cineasta presente no evento, dedicou seu prêmio ao Peru, sua família e os produtores catalãs da obra. Sua atriz principal Magaly Solier falou em quíchua e cantou nesse dialeto no Palácio da Berlinale para festejar o prêmio.
O filme grande vencedor é baseado no mito andino de que as mulheres estupradas durante a violência política no Peru traumatizavam seus filhos ao dar-lhes o seio para mamar.
Magaly Soler interpreta Fausta, que nasceu "com o susto" causado pelo estupro de sua mãe. Ao morrer, esta expressou seu desejo de ser enterrada em seu povoado natal.
O filme não conta apenas a luta de Fausta para conseguir dinheiro para a viagem, como também o lento processo para se curar da doença causada pelo fato de ter enfiado uma batata na vagina por medo de também ser estuprada.
"Fiquei sabendo desse mito da 'teta assustada' graças a um livro de relatos publicado por uma universidade nos Estados Unidos sobre as mujeres violadas durante a barbárie do terrorismo peruano. Essa crença se transmitia de geração para geração e a cura se dava mediante rituais xamanistas", explicou a diretora na coletiva de imprensa posterior à apresentação de seu filme, que comoveu o público do festival.
Claudia Llosa esclareceu ainda que a introdução de uma batata na vagina da personagem é um elemento fictício. "A batata é um tampão, ejetor de qualquer objeto externo. No Peru, a batata tem muitas conotações: é a raiz, a fertilidade, a tradição, o que somos, essa carga do passado, essa ferida, o trauma que queremos esconder", explicou.
"Minha pretensão era nos expor sem tabus, falar de tradições que não querem aparecer ante a modernidade. Perdemos nossa memória coletiva, mas nossa ferida ainda existe, e quer sair à luz", conclui em coletiva de imprensa. (AFP)
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