ENTREVISTA: "Eu quero fazer comédia", afirma Tom Cruise

No último dia 3 de fevereiro, pouco antes de ir embora do Brasil, Tom Cruise recebeu a revista VEJA para uma entrevista exclusiva – em que, como em todos os cinco dias que passou no país, se mostrou atencioso, gentil e entusiasmado. A visita do incansável ator e produtor, que tem fama de trabalhar duro, tinha um objetivo claro: promover seu mais novo filme, Operação Valquíria, que recupera a história verídica do oficial do Exército alemão Claus von Stauffenberg, que conduziu um complô para matar Hitler durante a II Guerra Mundial. Na entrevista a seguir, Cruise falou ainda sobre seu incessante prazer de atuar e da United Artists, estúdio controlado por ele.
Veja – Você deve estar satisfeito com a ótima recepção de Operação Valquíria na Alemanha, já que Claus von Stauffenberg, o protagonista, é um herói moderno no país.
Cruise – Esse é, sem dúvida, o ouro que temos em mãos. Eu estava até certo ponto confiante que os alemães não se decepcionariam com o filme, em razão da atenção tremenda que demos aos detalhes – essa é, afinal, a história deles. Ainda assim, não se trata de um documentário, e sim de um filme, uma recriação, e uma certa ansiedade é inevitável.
Veja – Vocês não sentiram uma certa emoção em rodar essa história nos pontos de Berlim em que ela aconteceu? Afinal, muitas das cicatrizes da II Guerra Mundial e do que ela acarretou ainda estão visíveis na cidade.
Cruise – Não poderíamos ter filmado em nenhum outro lugar: estar lá contribuiu de maneira imprescindível para o clima do filme. Foi quase um resgate cultural, uma vez que para as novas gerações esse é um passado distante. E filmar no Benderblock, onde Strauffenberg foi executado, foi um sentimento intenso. Só posso dizer que foi um alívio vê-lo do ponto de vista de 2008, e não no de 1943.
Veja – Tomando seus últimos personagens – Stauffenberg, o produtor grosseirão de Trovão Tropical, o senador conservador de Leões e Cordeiros e o assassino profissional de Colateral, por exemplo –, seria certo dizer que você hoje se interessa por buscar personagens com mais arestas, digamos?
Cruise – Acho que sempre interpretei personagens assim – em A Cor do Dinheiro, Rain Man, Nascido em 4 de Julho, Magnólia. Todos eles são homens complicados e imperfeitos – como todos nós.
Veja – Você tem fama de ser muito trabalhador.
Cruise – Considero que fazer aquilo de que gosto é um privilégio. No começo da carreira, eu pensava que, bem, se esta for a minha última oportunidade como ator, eu pelo menos tive essa oportunidade. E essa alegria e esse compromisso só aumentam à medida que aprendo sobre cinema e sobre interpretar. Portanto, gosto de trabalhar com pessoas que também levem o compromisso do trabalho a sério. Todo dia que se passa é um dia que não posso ter de volta, e todo filme que faço é um filme que não poderei refazer. De forma que dar o melhor de si é uma obrigação. Uma obrigação muito prazerosa.
Veja – Como se mantém esse interesse vivo e intacto, apesar do sucesso, da popularidade e da celebridade – que nem sempre é o lado bom do negócio?
Cruise – Tive muita sorte em, já no começo, trabalhar com as pessoas com quem trabalhei. E sei apreciar as oportunidades que tive e ser grato por elas. Esse sentimento nunca me abandona. Trabalho desde os 8 anos de idade: entregava jornais, cortava grama, fazia entregas, e contribuía para a minha família, que é tão importante para mim. Quanto à celebridade, eu a compreendo, digamos. É parte de fazer o que eu gosto.
Veja – A maioria dos atores sofre da angústia de que tudo vai se acabar, e de que aquele trabalho que conseguiram é o último. Você também?
Cruise – Não exatamente. A dúvida é, e o que vem depois? Quando fiz Taps, no começo de carreira, fui categorizado como um ator secundário, e não queriam me dar o papel principal em Negócio Arriscado. Tendo feito Negócio Arriscado, o rótulo virou outro, o de ídolo adolescente. E assim por diante. Mas gosto de aprender, acho que estou sempre aprendendo, e por isso gosto de fazer tantos filmes diferentes. Além disso, para mim é um prazer todo especial trabalhar não solitariamente, mas com outras pessoas – com um diretor, um roteirista, uma equipe, e ver o filme evoluir. E ser capaz de aceitar as mudanças, porque, não importa o quanto você trabalhe no roteiro e na pré-produção, um filme muda à medida que vai sendo feito. Mas nunca tive esse medo de não conseguir outro papel. Minha questão sempre é: como faço para que as coisas funcionem daqui para a frente. Neste momento mesmo, estou trabalhando em dez roteiros diferentes com vários amigos e colaboradores, tentando decidir quais devo fazer. É excitante e pode ser meio doloroso às vezes – tentar entender, por que isso ou aquilo não está funcionando? Se eu pudesse fazer três filmes por ano, faria. Mas há sempre aquele pequeno detalhe chamado qualidade. Minhas expectativas são muito altas.
Veja – É essa a razão por trás da sua aquisição da United Artists, a de gerar material? Quando você e a Paramount se separaram, você poderia ter conseguido qualquer outro contrato que desejasse.
Cruise – Sempre gerei material e ajudei outros artistas a gerar seu material também. Essa história da Paramount é interessante. É uma coisa de relações-públicas mesmo, que, não importa quantas vezes você tente esclarecer... Nunca tive um acordo com a Paramount. Produzi e protagonizei filmes para vários outros estúdios – Sony, Warner Bros., DreamWorks. Para mim, o mais importante sempre foi minha disponibilidade como produtor e ator. Nunca tive um contrato de exclusividade com a Paramount. E quando me ofereceram a United Artists... Mas não tenho exclusividade nem com meu estúdio. Sou dono da UA, mas não cuido do dia-a-dia do estúdio. Isso seria um emprego em tempo integral.
Veja – Imagino que Operação Valquíria venha a ser essencial para cimentar a United Artists como uma operação viável.
Cruise – Todo filme é essencial. Valquíria já começou a cumprir seu papel nesse sentido, uma vez que já está no azul. Todo filme que der dinheiro será crucial para o estúdio.
Veja – Como ator, há algum território em que você ache que ainda não se aventurou, ou em que não sucedeu como gostaria?
Cruise – Adoro comédia. O personagem de Trovão Tropical... foi uma delícia fazê-lo e criá-lo junto com Ben Stiller. Mas só quero fazer mais filmes, em todo e qualquer gênero. Adoro também fazer filmes de ação. Também gosto de dançar, e se eu achasse um bom roteiro de musical não hesitaria em fazê-lo. Cada filme tem seu desafio específico: em O Último Samurai, por exemplo, tive de treinar por mais de um ano inteiro até dominar o uso da espada japonesa. E precisei de cada minuto daquele ano. Nunca fiz nada tão difícil. Mas, com certeza, mais comédia. Gosto de rir, e de fazer rir.
Veja – Fazer papéis secundários, como em Magnólia ou Trovão Tropical, é uma espécie de alívio da pressão de ter de carregar um filme?
Cruise – A pressão está sempre ali. Não existe alívio. O alívio está em fazer coisas diferentes, simplesmente. Em termos básicos, continuo apaixonado por atuar e por fazer filmes.
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