Brasileiros ignoram riscos de doenças em outros países

Os meses de férias são, para muitos, a oportunidade de conhecer outros países ou mesmo revisitá-los. No entusiasmo da escolha do roteiro de viagem, os riscos de contaminação com alguma doença, nem sempre alertados pelas agências de viagens ou companhias aéreas, são ignorados por uma parcela considerável dos turistas brasileiros. Quem vai à Itália, por exemplo, não imagina que existe a possibilidade de transmissão de raiva, nem de sarampo na Alemanha, França, Espanha e Reino Unido, muito menos de malária ou dengue na Turquia ou Austrália, nem de febre amarela na Argentina.
"É preciso que as pessoas se informem antes de planejar sua viagem para o exterior sobre todos esses riscos e como se prevenirem, seja por vacinação, seja por medidas como evitar contatos com animais, insetos, determinados alimentos e bebidas", alerta o gerente-geral de Portos e Aeroportos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Paulo Coury.
Até 15 de junho de 2007, data em que entrou em vigor o novo Regulamento Sanitário Internacional (RSI), a vacinação contra a febre amarela era requisito obrigatório para a entrada nos países com restrições para a doença. Oficialmente, essa exigência não existe mais nos 194 países signatários do novo RSI, com exceção da Índia, que preferiu manter as regras anteriores. "Isso porque o novo regulamento trata da doença na fonte deixando de controlar a entrada", explica Coury. "Mas, isso não quer dizer que as pessoas não devam se prevenir. A nossa recomendação é vacinar todo mundo antes de viajar", complementa.
Recomendações - Para simplificar o acesso à informação, a Anvisa disponibiliza o site www.anvisa.gov.br/viajante, em que é possível saber com antecedência as possíveis áreas endêmicas e as recomendações a serem seguidas. O acesso só é possível depois de um cadastramento. Entre as vacinas recomendadas estão a tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), a dT (difteria e tétano), a de hepatite B, poliomielite, influenza e meningite meningocócica. Todas têm um prazo de 48 horas a 72 horas para começarem a fazer efeito, com exceção da febre amarela, que passa a funcionar dez dias depois de aplicada.
Para os adultos que acreditam não precisarem se vacinar por já terem sido imunizados quando crianças, o gerente da Anvisa lembra que as vacinas têm uma vida útil média de 15 anos. "Por isso é importante que os adultos criem o hábito de manterem sua carteira vacinal em dia e não pensem que isso é apenas para crianças." As vacinas são gratuitas e aplicadas somente nos postos de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país.
Desavisados - A arquiteta Tatiana Fernandes, de 27 anos, lembra que não foi informada e nem procurou saber se precisava se precaver contra alguma doença antes de visitar a Argentina, em outubro de 2008. "Eu só tomei a vacina contra febre amarela depois que voltei de Buenos Aires porque ia para Belém. Ninguém da agência me alertou sobre esse risco na Argentina", conta.
O professor Ademir Souza dos Santos, de 37 anos, também foi um dos desavisados quando escolheu passar o último réveillon na capital argentina. Apesar de não utilizar os serviços de agências de viagem, Santos critica a falta de informação das companhias aéreas. "Elas deveriam comunicar isso no momento da reserva ou na emissão de passagens. Se eu tivesse sabido disso antes, certamente teria me precavido e tomado a vacina para não correr o risco que passei."
Mesmo sendo alérgica e não podendo tomar a vacina contra febre amarela, a bancária Ana Paula Xavier, de 36 anos, realizou o sonho de conhecer o Egito em 2008 sem tomar qualquer precaução para as outras possíveis doenças que encontraria naquele país, como a malária e a influenza aviária. "Eu não me preocupei porque a gente aqui no Brasil também tem um grande número de doenças", justificou.
Apesar do risco de outras doenças, que podem ser prevenidas com a vacinação, o consultor de viagens Rodrigo Salvatore reconhece que a febre amarela continua sendo a única preocupação das agências. "Nós alertamos os clientes quanto à necessidade de se vacinar contra a febre amarela quando esta é requisito de entrada para o país escolhido", afirma Salvatore.
Proteção - As orientações, no entanto, não estão restritas às vacinas. Para evitar contaminação por alimentos, a vigilância sanitária orienta o turista brasileiro a não ingerir alimentos de origem animal de procedência duvidosa, principalmente aves e ovos crus ou mal cozidos, e lavar frequentamente as mãos. Na proteção contra picadas de insetos, a Anvisa recomenda utilizar roupas com mangas compridas, calças e sapatos fechados e usar repelente nas áreas expostas da pele, seguindo a orientação do fabricante. Em crianças menores de 2 anos, recomenda-se o uso de repelente somente sob orientação médica. Entre as crianças de 2 anos a 12 anos, usar repelentes com concentrações de até 10% de DEET, no máximo três vezes ao dia.
Os cuidados, no entanto, não são apenas antes e durante da viagem. Na volta, todo e qualquer sinal ou sintoma, como febre, dor de cabeça, mal-estar em geral, deve ser relatado às autoridades sanitárias, informando os locais visitados nos últimos quinze dias. "Isso é fundamental para que se faça um nexo causal", diz o gerente da Anvisa Paulo Coury.
Destinos - Segundo a Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), os oito destinos mais procurados para turismo de lazer pelos brasileiros são os Estados Unidos, Argentina, Chile, Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Itália, com maior concentração nos meses de dezembro, janeiro e junho. O roteiro do turismo de negócios também não foge muito desse traçado. Conforme dados do Forum das Agências de Viagens Especializadas em Contas Comerciais (Favecc), as cidades mais visitadas por brasileiros nos 12 meses do ano são Miami, Paris, Nova York, Buenos Aires, Lisboa, Madri, Londres, Santiago, Frankfurt e Milão. (VEJA)
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