Angra 3: Uma decisão polêmica

Em abril do ano que vem começa, com cerca de 20 anos de atraso, a construção da usina termelétrica nuclear Angra 3, no Centro Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis (RJ). O evento marcará definitivamente a retomada do programa nuclear brasileiro.
Essa opção, no entanto, vista por alguns especialistas como uma das vocações energéticas do país, dono da sexta maior reserva de urânio do mundo, é considerada equivocada por outros. Rejeitos, o custo da energia e fontes alternativas são algumas das questões discutidas pelos dois lados e empregadas para defender seus pontos de vista.
Projetada para entrar em operação em 2014, Angra 3 custará cerca de US$ 4 bilhões – além dos US$ 800 milhões já gastos com equipamentos – e terá uma potência de 1.405 megawatts (MW). Junto com os 657 MW de Angra 1 e os 1.350 MW de Angra 2, a energia gerada por essas três termelétricas (que usam calor para gerar eletricidade) nucleares responderá por 80% da demanda elétrica do estado do Rio de Janeiro.
Segundo Maurício Tiomno Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que desenvolve o Plano Nacional de Energia (PNE), as simulações mostraram que as hidrelétricas podem não ser suficientes para uma geração de base - que representa o mínimo de energia necessário para atender a demanda média do país. Em momentos de maior consumo, esse volume é complementado pela ativação de outros recursos, como termelétricas movidas a óleo ou carvão. “Ao contrário destas, cuja construção é barata, mas o custo de operação é alto, as usinas nucleares, assim como as hidrelétricas, têm uma instalação cara, porém operam a um preço baixo. Por isso são apropriadas para geração de base”, esclarece Tolmasquim.
De acordo com o presidente da EPE, fontes de energia alternativas, como a dos ventos (eólica) e a solar, não seriam apropriadas para esta finalidade, principalmente devido ao seu custo. Enquanto o megawatt-hora (MWh) das hidrelétricas custa R$ 70 e o das usinas nucleares R$ 140, os da eólica e solar custam R$ 180 e R$ 300, respectivamente. Além disso, como os ventos só costumam estar ativos em 35% do ano, a grade brasileira não poderia contar com essa fonte para sua base, apenas para uma complementação.
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o físico Odair Dias Gonçalves, ressalta que mesmo a expansão da hidroeletricidade tem, atualmente, um limite, já que parte das reservas brasileiras de água são superficiais e se localizam em áreas de proteção ambiental ou reservas indígenas. “Isso dificulta a utilização do restante de nosso potencial hídrico, cerca de 70% do total, para geração de energia”, relata o presidente da Cnen, acrescentando que os investimentos em energia nuclear também renderão benefícios e aplicações para a saúde e a indústria.
(Fonte: Ciência Hoje - Redação Brasil News)
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