Aumento de velocidade e dados na internet pode levar a catástrofe

Andy Bechtolsheim, Ken Duda e David Cheriton,
os fundadores da Arista, com um switch (comutador)
A Arista Networks prova que duas pessoas podem faturar cada uma mais de US$ 1 bilhão de dólares com o desenvolvimento da internet e ainda assim ficar preocupadas com sua confiabilidade.

David Cheriton, um professor de ciência da computação na Universidade Stanford conhecido por seu talento em design de software, e Andreas Bechtolsheim, um dos fundadores da Sun Microsystems, decidiram investir US$ 100 milhões de seu capital, e já gastaram metade disso, para reformular a maneira pela qual os computadores são conectados nas grandes centrais de computação da internet.

Como dizem os fundadores da Arista, a promessa de acesso instantâneo a volumes gigantescos de dados, em qualquer lugar, vem acompanhada pela ameaça de catástrofe. As pessoas estão criando mais dados e os transferem cada vez mais rápido via redes de computador. As redes rápidas permitem que as pessoas transfiram parcela cada vez maior dos produtos da civilização para a mídia on-line, e isso inclui não apenas posts no Facebook e todos os livros já escritos, como toda a música, chamadas telefônicas em tempo real e a maior parte da tecnologia da informação que permite o funcionamento das empresas modernas --tudo encaminhado a uma "nuvem" mundial de centrais de processamento de dados. As redes são concebidas de forma que fiquem disponíveis o tempo todo, via celular, tablet, computador pessoal e uma gama crescente de outros aparelhos conectáveis.

Estatísticas dizem que um número vastamente ampliado de transações entre computadores, em um mundo cem vezes mais rápido que o atual, conduzirá a um maior número de acidentes imprevisíveis e a um menor intervalo entre eles. A nuvem da Amazon para empresas já passou por uma paralisação de horas de duração em abril, quando as rotinas computacionais falharam e o sistema sofreu uma sobrecarga. A nuvem do Google para seu serviço de e-mail e software de documentos já sofreu diversas interrupções.

"Nós pensamos na internet como algo sempre à disposição", disse Cheriton. "Só porque nos tornamos dependentes dela, não quer dizer que isso seja verdade." Bechtolsheim diz que, devido à complexidade da internet, é impossível projetar uma rede mundial sem bugs (problemas). Bugs muito perigosos, eles dizem, capazes de paralisar o comércio, destruir informações financeiras ou permitir ataques de potências estrangeiras.

Os dois estiveram entre os primeiros investidores do Google, o que os tornou bilionários, e antes disso criaram e venderam uma empresa à gigante de redes Cisco por US$ 220 milhões. Sua riqueza e sua reputação como visionários tecnológicos conferem rara credibilidade aos seus argumentos sobre os riscos de redes mais rápidas.

Mais transações também significam mais ataques a sistemas. Ainda que diga que a sociedade on-line chegou para ficar, Cheriton se preocupa muito com os riscos de segurança. "Fiz a alegação de que as forças armadas chinesas seriam capazes de derrubar a rede em 30 segundos, e não há quem tenha conseguido provar que estou errado", disse. Ao criar uma nova forma de operar redes na era das nuvens, afirma, "temos um caminho para obter software mais sofisticado, capaz de autodefesa e de detectar mais problemas com mais rapidez".

O engenheiro Lorenz Redlefsen observa equipamento no
 laboratório da Arista, em Santa Clara, na Califórnia
A conexão comum entre os servidores, de um gigabit por segundo, vem sendo substituída por conexões de 10 gigabits, devido à melhora no design e no software de semicondutores. Velocidades de 40 e até 100 gigabits estão em uso para propósitos especializados, tais como consolidação de grandes fluxos de dados entre centenas de milhares de computadores em todo o mundo, e essa tecnologia logo estará em uso generalizado. O padrão de engenharia do setor deve chegar a 1 terabit (1.000 gigabits) por segundo em cerca de sete anos.

A Arista, sediada em Santa Clara, foi criada tendo em mente o mundo das conexões de 10 gigabits. A companhia no momento tem 250 funcionários, 167 dos quais engenheiros, construindo um rápido switch (comutador) roteador de dados capaz de isolar problemas e resolvê-los sem derrubar a rede. O propósito é que possa funcionar com chips baratos e produzidos em massa. Em termos de software e hardware, representa um distanciamento considerável da forma pela qual as redes vêm sendo geridas nos últimos 25 anos.

"Companhias como a Cisco precisam criar chips especializados próprios para operar em alta velocidade", disse Bechtolsheim. Devido às melhoras na qualidade e na capacidade do tipo de chips usado em computadores, celulares e decodificadores de TV a cabo, "poderemos construir uma rede mais habilitada para o uso de software, e é muito mais fácil defender e modificar software", ele disse.

Para Cheriton, que corta o próprio cabelo apesar de sua grande riqueza, a Arista representa oportunidade de trabalhar em um novo estilo de software sobre o qual ele vem pensando desde 1989.

Não importa o quanto seja complexo, o software essencialmente representa sequências de comandos lineares: faça isto e depois faça aquilo. Ocasionalmente pode ser dividido em "objetos" ou módulos, mas eles tendem a operar sequencialmente.

Entre 2004 e 2008, quando a Arista vendeu seu primeiro produto, Cheriton desenvolveu um sistema de 5 milhões de linhas que divide as operações em uma série de tarefas as quais, depois de completadas, podem ser verificadas por outras partes do programa e aproveitadas se não apresentarem problemas. Bechtolsheim colaborou com ele para permitir que o sistema operasse com chips já disponíveis no mercado.

Os primeiros produtos foram vendidos a operadores financeiros que desejavam reduzir em 100 nanossegundos a duração de suas transações de alta frequência. A Arista conta com mais de mil clientes agora, entre os quais companhias de telecomunicações e laboratórios universitários de pesquisa.

"Eles criaram algo de arquitetonicamente único nas redes, e isso oferece grande valor para o setor", disse Nicholas Lippis, que testa e avalia comutadores. "Construíram um sistema veloz e de valor único para o setor".

Kenneth Duda, outro dos fundadores, disse: "O que nos propele aqui é descobrir uma nova maneira de desenvolver software". Duda também colaborou com Cheriton e Bechtolsheim na Granite Systems, a empresa que eles venderam à Cisco. "O grande inimigo é a complexidade, medida em termos de linhas de código ou interações", disse. No mundo da computação em nuvem, "não existe pessoa viva capaz de compreender 10% da tecnologia envolvida em escrever e imprimir uma lista on-line de compras".

Devido à complexidade da internet, é impossível
projetar uma rede mundial sem problemas
Não surpreende que a Cisco, empresa dominante no mercado de software de roteamento, um negócio que movimenta US$ 5 bilhões ao ano, discorde.

"Não é preciso reinventar a internet", disse Ram Velaga, vice-presidente de gestão de produtos da Cisco. "Estes protocolos foram criados para funcionar mesmo que Washington seja destruída. Isso faz parte da arquitetura."

Mas os novos switches da Cisco para centrais de dados têm software reescrito para ser mais parecido com o da Arista. Alguns produtos da empresa vêm usando o chamado "silício comercial" (merchant silicon), em vez dos usuais chips exclusivos. "Andy apostou que a Cisco jamais usaria silício comercial", disse Velaga.

Cheriton e Bechtolsheim se conhecem desde 1981, quando Cheriton chegou de seu Canadá natal para lecionar em Stanford. Bechtolsheim, nascido na Alemanha, estava estudando engenharia elétrica e criando aquilo que se tornaria o primeiro produto da Sun, uma estação de trabalho computadorizada.

Os dois se tornaram amigos e colaboradores intelectuais, e em 1994 criaram a Granite Networks, responsável por um dos primeiros switches de um gigabit. A Cisco comprou a companhia dois anos mais tarde.

Porque a Arista não tem investidores externos, eles podem demorar quanto quiserem no desenvolvimento do produto, disse Bechtolsheim.

"Os executivos de capital para empreendimentos não têm paciência para esperar o desenvolvimento de um produto", diz. "E logo querem apontar o melhor amigo como executivo-chefe. Além disso, nossa companhia parecia um bom investimento."

Cheriton acrescenta que "não ter dinheiro do setor de capital para empreendimentos claramente representa uma vantagem competitiva". Além disso, diz: "Andy nunca me disse que o projeto custaria US$ 100 milhões". FONTE: NEW YORK TIMES
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