As gotinhas usadas normalmente no Brasil para combater a paralisia
infantil (poliomielite) podem ser substituídas no futuro pela versão
injetável da vacina. A troca está sendo cogitada pelo Ministério da
Saúde e é citada por médicos como benéfica pelo fato da injeção não
apresentar o risco de reações adversas - como no caso de uma criança de um ano e quatro meses em Pouso Alegre, que pode ter desenvolvido a doença após receber uma dose das gotinhas.
Conhecida como Sabin, a vacina oral contém um vírus atenuado da doença e
foi responsável por erradicar a doença no país há 20 anos após
campanhas de vacinação, popularizadas no Brasil pelo personagem Zé
Gotinha.
No caso de Pouso Alegre, a criança foi diagnosticada pelo médico Walter
Luiz Magalhães como portadora de paralisia intensa e flacidez nas
pernas e no braço direito - sintomas que podem ter sido causados pelo
vírus da poliomielite.
"Especialmente durante a administração das primeiras doses, o vírus
pode sofrer uma mutação no intestino e retomar a habilidade de causar a
doença", explica Renato Kfouri, médico e presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIM) ao G1. "A ideia de substituir vem exatamente por causa deste tipo de notificação."
A troca já foi adotada em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália
e europeus. A subtituição do uso da Sabin pela versão injetável -
conhecida como Salk - é uma orientação da Organização Mundial da Saúde
(OMS), mas deveria ser feita somente quando fosse constatada a
erradicação total do vírus no mundo.
Apesar da ameaça, os efeitos adversos das gotinhas são raríssimos.
Segundo o Ministério da Saúde, a cada 3 milhões de doses orais aplicadas
em crianças em todo o mundo, somente uma irá causar poliomielite. No
Brasil, foram 46 casos de paralisia infantil pós-vacina nos últimos 10
anos, de um total de 457 milhões de doses aplicadas até hoje no país. No
mundo, são 500 casos por ano de paralisia após a vacina Sabin.
O último caso confirmado de contaminação pelo vírus selvagem no Brasil
aconteceu na cidade de Souza, na Paraíba, em 1989. O vírus ainda é ativo
em 26 países no mundo como Índia, Nigéria e Paquistão.
Caso de Pouso Alegre - Sidnéia Branco Teixeira, de 38 anos, afirma que seu filho começou a
desenvolver os sintomas da doença em novembro de 2010, dias após receber
a terceira vacina administrada por via oral (gotas). Segundo a mãe,
Otávio teve febre uma semana após a dose e começou a perder os
movimentos da perna 15 dias depois.
Casos de contaminação pela vacina devem ser comunicados
obrigatoriamente ao Ministério da Saúde em até 48 horas. Segundo o
órgão, no caso da criança de Pouso Alegre, a notificação apenas no dia
12 de agosto. A demora, segundo o órgão, impede ações de vigilância e
dificulta saber se a doença - caso seja confirmada como poliomelite -
foi causada pelo vírus atenuado da vacina ou por um vírus selvagem.
Ainda que nada pudesse ser feito para reverter a doença, o Ministério
da Saúde alerta que comunicar rapidamente poderia servir como um dado de
saúde pública importante. A análise das fezes da criança também
poderiam ajudar na identificação das causas da paralisia, mas esse
procedimento teria de ser realizado rapidamente.
Planos para substituição - O Ministério
da Saúde anunciou no final de agosto que estudava substituir a vacina
em gotas contra a doença pela imunização por injeção. Para o órgão, a
vacina Salk - administrada dentro do músculo - é melhor que a Sabin,
pois é feita com o vírus morto. O fato do micro-organismo estar inativo
impediria o surgimento da poliomielite entre os vacinados.
Mesmo cogitando realizar a substituição, o Ministério da Saúde
reconhece que somente a vacinação em gota poderia realizar o trabalho de
erradicação da doença no país, já que a aplicação das gotas é muito
mais simples e possui a vantagem de imunizar indiretamente toda a
população por meio da circulação do vírus atenuado - eliminado na
natureza por meio das fezes das crianças que receberam as doses. FONTE: G1