O que são 14 anos na vida de alguém? Uma filha ou filho crescendo e chegando ao ensino médio. Três Copas do Mundo e uma Copa América. Um financiamento de casa própria. Seu time na fila, sem ganhar um campeonato decente de futebol. Uma pessoa sem poder deixar o emprego.
É isso mesmo. Um trabalhador foi libertado de 14 anos de cativeiro pela Superintendência Regional do Trabalho em Goiás, o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal. Encontrado morando em um barraco montado com restos de madeira, folhas de palmeira e lonas velhas, sem banheiro, com fogões improvisados para cozinhar, vivia na companhia de ratos, baratas e escorpiões. Ele foi aliciado para a extração de areia de um rio, produção posteriormente vendida para a construção civil. Os responsáveis pelo serviço Abner Jesus Moreira e Abimael Jesus Moreira tiveram que pagar o montante devido e vão responder pelo crime. A maioria das dragas estavam irregulares do ponto de vista ambiental e foram interditadas.
As operações que resultaram na retirada do trabalhador, e que ocorreram nos últimos dois meses, resgataram outras 101 pessoas tanto na dragagem de areia quanto na colheita de milho no estado. Um dos casos envolveu a Du Pont do Brasil, que teve que pagar R$ 300 mil em dívidas trabalhistas e afirmou, em nota à Repórter Brasil, que trouxe a notícia a público, que irá analisar as multas e provar que não houve crime, uma vez que se pautaria pelo respeito “às leis, ao meio ambiente e à saúde, segurança e integridade de seus funcionários”.
Segundo Roberto Mendes, auditor fiscal que coordenou a fiscalização, a maioria dos trabalhadores foram aliciados no Piauí e Maranhão e trazidos por “gatos”, contratadores de mão-de-obra a serviço de empregadores, até Goiás.
A história assusta, mas não é a recordista em tempo de cativeiro. Em março de 2009, um trabalhador foi resgatado de 20 anos de trabalho forçado em uma fazenda de gado em Alegre, Espírito Santo. Eram obrigados a comprar alimentos do próprio empregador, o que os mantinha em situação de servidão por dívida. “Acredita-se que o principal motivo para que os trabalhadores se mantivessem na propriedade era o alcoolismo, fomentado pelo fornecimento de bebidas alcoólicas por parte do empregador”, afirmou na época o coordenador da ação, o auditor fiscal Afonso Celso Gonçalves. BLOG DO SAKAMOTO