ALERTA: A droga mais receitada no Brasil para quem quer perder peso é proibida na Europa

Quem vai ao médico em busca de uma solução para emagrecer costuma sair do consultório com três recomendações: dieta balanceada, atividade física e, frequentemente, sibutramina (Reductil é a marca mais famosa). O remédio, que atua no cérebro e aumenta a sensação de saciedade, é a principal escolha dos médicos que prescrevem drogas contra a obesidade. Esse comportamento pode começar a mudar.
A droga foi retirada do mercado na Europa depois da revelação de que ela eleva o risco de problemas cardiovasculares. Um estudo realizado com cerca de 10 mil pacientes durante seis anos revelou um aumento de 16% na incidência de infarto e derrame em pessoas que já tinham histórico de problemas cardiovasculares e tomaram o medicamento. Nenhuma morte foi verificada. O estudo completo ainda não foi publicado. A agência que regulamenta medicamentos nos Estados Unidos, a FDA, decidiu não proibir a venda do remédio. Mas exigiu uma alteração na bula para tornar mais explícito o alerta de que pessoas com hipertensão e outros problemas cardíacos (leia na ilustração abaixo) não devem tomar sibutramina. No Brasil, a bula do medicamento menciona como possíveis eventos adversos a elevação da pressão arterial e arritmias cardíacas. Mas a única contraindicação diz respeito às pessoas com histórico de anorexia ou bulimia. No ano passado, a Anvisa recebeu 37 notificações de eventos adversos – 14 relacionadas a problemas cardiovasculares. Não houve mortes. Em fevereiro, o órgão deverá decidir se amplia as restrições de venda ou se até mesmo proíbe a substância no país. O maior desafio que os médicos enfrentam é determinar em quais pacientes os benefícios superam os riscos. Segundo as autoridades sanitárias europeias, a perda de peso proporcionada pela sibutramina é modesta (de 2 a 4 quilos em média) e não compensaria os riscos. “A arte da medicina é avaliar riscos”, diz o cardiologista Raul Dias Santos Filho, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. “Sozinha, a droga não garante grande perda de peso. Se o paciente tiver fatores de risco para doença cardiovascular, mesmo que ela não tenha se manifestado, talvez seja melhor não tomar o remédio.” A maioria dos endocrinologistas espera que a droga continue liberada no Brasil. “Se esse remédio for proibido, vamos perder um produto extremamente útil no combate à obesidade”, diz Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Mas o alerta sobre os riscos em pacientes cardiopatas precisa se tornar mais explícito no Brasil”, diz. Como ocorre com várias outras classes de medicamentos, a sibutramina é consumida no Brasil por muito mais gente do que deveria. Em 2009, foram vendidas 6,9 milhões de caixinhas. O consumo cresceu mais de dez vezes desde 2005, impulsionado principalmente pelo lançamento de genéricos. A droga só deveria ser vendida com retenção de receita, mas nem sempre isso acontece. “Muitas pessoas conseguem fraudar receitas, sem acompanhamento médico. Correm sérios riscos”, diz o cardiologista Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, em São Paulo. Quando o assunto é remédio, o jeitinho brasileiro pode ser fatal. ÉPOCA
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