TRISTE REALIDADE: Governo turbina Defesa, mas exclui Exército de investimento que prioriza pré-sal

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou recentemente a negociação de uma compra bilionária de 36 caças, 50 helicópteros e cinco submarinos de guerra para equipar a Marinha e a Aeronáutica num investimento que pode ultrapassar R$ 5 bilhões, mas excluiu o Exército, o responsável por proteger por terra outra região estratégica para o Brasil: as áreas de fronteira da Amazônia. A justificativa é proteger as reservas de petróleo na área de 800 quilômetros abaixo do mar entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina - a chamada camada pré-sal- e a Amazônia. A divisão de dinheiro prevista para as Forças Armadas em 2010 aumenta em 189% o investimento na Marinha, 10,7% na Aeronáutica e não chega a 1% para o Exército em comparação com o que foi reservado até o fim deste ano. Os números mostram que, embora o investimento no Exército tenha minguado ao longo dos últimos 15 anos, ele vem se recuperando lentamente de 2005 para cá e passou de R$ 181 milhões para R$ 751 milhões. O coronel da reserva e professor do núcleo de estudos estratégicos da Unicamp, Geraldo Cavanhari, disse que o governo decidiu investir mais na Marinha e Aeronáutica por uma questão estratégica: proteger Brasília e as reservas de petróleo encontradas no pré-sal. - O submarino nuclear é uma arma estratégica para proteger o Atlântico Sul, enquanto os aviões são para modernizar a área tática: eles vão cobrir o espaço aéreo de regiões estratégicas, como a capital do país e as principais indústrias e portos do Brasil. Ao escolher proteger as reservas de petróleo, o governo acabou comprometendo a segurança da Amazônia. É que o Exército não tem dinheiro nem homens suficientes para cuidar da segurança da maior floresta do mundo. Cavanhari disse que o Exército tem cerca de 1.300 oficiais vigiando a fronteira, enquanto outros 25 mil estão espalhados em brigadas por lugares-chave da selva. - O ideal seria o triplo de militares na região porque uma guerra na Amazônia só aconteceria por terra. Hoje, a possibilidade de mais soldados na Amazônia é praticamente zero. Apesar de contar com 183 mil homens -mais do que Marinha e Aeronáutica juntos-, o Exército não tem dinheiro para manter tanta gente. Em março, por exemplo, o governo reduziu de 70 mil para 48 mil o número de recrutas chamados pelo serviço militar obrigatório. Outra medida quase desesperada foi tomada pelo Exército para economizar em comida: reduzir para meio expediente o funcionamento dos quartéis às segundas-feiras. O deputado federal e capitão do Exército Jair Bolsonaro (PP-RJ) diz que também falta equipamentos à instituição: - Os fuzis são de 40 anos atrás e metade de nossas viaturas tem mais de 25 anos de uso. O que parece ruim piora quando o militar confere o contra-cheque. Enquanto o salário de um general do Exército -o topo na hierarquia- é de R$ 14,5 mil, um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal pode ganhar até R$ 19 mil. Um coronel do Exército recebe R$ 10 mil por mês, menos que um agente da Polícia Federal, que pode receber até R$ 11,8 mil. A conseqüência é que militares estão batendo em retirada. No ano passado, 42 oficiais deixaram a Aeronáutica, 65 a Marinha e 100 o Exército. Os especialistas dizem que o governo levou em consideração vários fatores antes de optar pelo pré-sal. Além de mostrar os dentes para os vizinhos da América Latina, como Venezuela e Argentina, os gastos do Brasil com a compra de caças, submarinos e helicópteros tentam impressionar a ONU (Organização das Nações Unidas) e garantir ao país um cadeira permanente no Conselho de Segurança da entidade. R7
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