Alfabetizar as crianças mais cedo nem sempre é vantajoso

Vitória Diniz tem cinco anos e está na classe do Jardim 2 da educação infantil do Colégio Augusto Laranja, em São Paulo. Compenetrada na lição, ela passou da fase de "rabiscar" as primeiras letras para terminar o ano letivo alfabetizada.
É muito cedo? É o esperado? Não é de agora que as dúvidas angustiam os pais, mas a mudança curricular que aumentou o número de anos do ensino fundamental e antecipou para os seis anos a entrada na primeira série, ou seja, na chamada educação formal, colocou mais água na sopa de letras da alfabetização infantil.
"Há algum tempo, escolas particulares já aceleram a alfabetização. Com a mudança de lei do ensino fundamental, somou-se a pressa anterior a um equívoco sobre a entrada da criança nessa fase escolar. É como se a antiga primeira série (que as crianças cursavam a partir dos sete anos) tivesse de ser feita mais cedo", diz Vitória Regis Gabay de Sá, coordenadora pedagógica da escola de educação infantil Jacarandá, em São Paulo.
O problema, segundo Gabay de Sá, é o entendimento do que seja a alfabetização. "A produção escrita é resultado de um processo que começa muito antes. A criança vai construindo competências e adquirindo condições físicas, emocionais e cognitivas para representar por meio da escrita, mas querer esse resultado mais cedo 'atropela' o processo e aí é que está o equívoco. Aprender antes não significa aprender melhor."
Exigência social - Cristina Nogueira Barelli, mestre em lingüística e coordenadora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades, de São Paulo, diz que as adaptações curriculares surgem por uma exigência natural da sociedade.
"Não é a escola que quer alfabetizar antes, é o mundo contemporâneo. A escrita está posta para a criança, e ela se permite alfabetizar mais cedo."
Barelli acredita que, quando os pais pensam em alfabetização precoce, eles tomam como padrão a idade em que eles próprios se alfabetizaram e ficam angustiados por acharem que a criança está se escolarizando cedo demais.
"Mas [a alfabetização] pode ser bem-vinda mais cedo, desde que não seja colocada como uma expectativa de sucesso ou fracasso no desempenho escolar."
(Folha de São Paulo)
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