Laboratório secreto do Google persegue sonhos e projeta o futuro

Carro sem motorista desenvolvido pelo Google
Em um laboratório secreto em local não revelado da Bay Area (Califórnia) onde robôs correm livremente, o futuro está sendo imaginado.

É um lugar no qual seu refrigerador pode estar conectado à internet e encomendar legumes quando o estoque estiver baixo. A louça do jantar pode postar informações sobre o cardápio de uma refeição nas redes sociais. Um robô pode substituí-lo no escritório enquanto você fica em casa de pijamas. E você talvez possa subir de elevador ao espaço sideral.

Esses são apenas alguns dos sonhos que estão sendo perseguidos no Google X, o laboratório clandestino no qual o Google trabalha em uma lista de cem ideias ambiciosas. Cerca de uma dúzia de pessoas discutiu essas ideias em entrevistas; algumas trabalham no laboratório ou outras áreas do Google e estão informadas sobre o projeto. Mas nenhuma permitiu que seu nome fosse mencionado, pois o Google é tão sigiloso sobre o projeto que muitos funcionários nem sequer sabem que o laboratório existe.

Embora a maioria das ideias na lista esteja em estágio conceitual e nada próximas de se concretizarem, duas pessoas informadas sobre o projeto revelaram que um produto do laboratório seria lançado antes do final do ano, mas elas não revelam do que se trata.

"Eles estão trabalhando em ideias bem excêntricas", disse Rodney Brooks, professor emérito de ciência da computação e inteligência artificial no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e fundador da Heartland Robotics. "Mas o Google não é uma companhia convencional, e por isso os critérios usuais não são aplicáveis."

Na maioria das empresas do Vale do Silício, inovação significa desenvolver aplicativos ou formas de publicidade on-line, mas o Google se vê como diferente. Agora que ele se tornou uma grande empresa, sob ataque de novas companhias criadas nos últimos anos, o laboratório reflete a ambição da empresa em continuar a ser um polo de pesquisa e desenvolvimento inovadores, semelhante ao Parc (Centro de Pesquisa de Palo Alto), da Xerox, que desenvolveu o computador pessoal em sua forma moderna, nos anos 70.

Jill Hazelbaker, porta-voz do Google, se recusou a comentar sobre o laboratório, mas afirmou que investir em projetos especulativos é parte importante do DNA do Google. "Embora as possibilidades sejam incrivelmente inspiradoras, por favor tenha em mente que as somas envolvidas são pequenas em comparação ao investimento que fazemos em nossos negócios centrais."

No Google, que utiliza técnicas de inteligência artificial e aprendizado de máquinas em seu algoritmo de busca, alguns desses projetos extravagantes podem não ser tão absurdos quanto pareceriam à primeira vista, mesmo que estejam bem distantes das operações de busca on-line que representam a atividade primária da empresa.

Por exemplo, elevadores espaciais, uma fantasia antiga dos fundadores do Google e outros empreendedores do Vale do Silício, podem recolher informações ou transportar objetos ao espaço. (Em teoria, eles envolveriam viagens espaciais sem foguete, por meio de um cabo ancorado na Terra.) "O Google está coletando todos os dados disponíveis no mundo, então agora poderia estar recolhendo dados sobre o Sistema Solar", disse Brooks.

Andrew Ng (esq.), cientista do Google X, no laboratório de
 inteligência artificial da Universidade Stanford
Sergey Brin, cofundador da companhia, está profundamente envolvido no trabalho do laboratório, disseram diversas pessoas que conhecem os projetos, e foi o criador da lista de ideias, com ajuda de Larry Page, o outro fundador do Google (que trabalhava no Google X antes de se tornar executivo-chefe da empresa em abril), Eric Schmidt, o presidente do conselho, e outros importantes executivos. "Dedico meu tempo a projetos ambiciosos, que espero venham a se tornar importantes negócios-chave no futuro", disse Brin recentemente, sem mencionar o Google X.

O Google pode transformar uma dessas ideias --os carros sem motorista que testou em estradas da Califórnia no ano passado-- em um novo negócio. Como não considera que as montadoras de automóveis de Detroit tenham espírito inovador, o Google está considerando a possibilidade de fabricar esses veículos nos Estados Unidos, disse uma pessoa informada sobre o projeto.

O Google poderia vender tecnologia de navegação ou informação para automóveis e teoricamente exibir publicidade vinculada à localização aos passageiros, enquanto eles passam velozmente por empresas locais, sentados no banco de trás e jogando Angry Birds.
Frotas de robôs podem ajudar o Google a recolher informações, substituindo a equipe humana que fotografa as ruas para o Google Maps, disseram pessoas informadas sobre o trabalho do Google X. Robôs criados pelo laboratório podem trabalhar em residências e escritórios, auxiliando em tarefas simples ou permitindo que as pessoas trabalhem sem sair de casa.

Outras ideias envolvem o que o Google chamou de "web de coisas" em uma conferência de seus programadores em maio --um meio de conectar objetos à internet. A cada vez que alguém usa a web, isso beneficia o Google, argumenta a empresa, e por isso seria interessante para ela que acessórios domésticos e objetos pessoais, não apenas computadores, estivessem conectados.

Entre os itens que poderiam se tornar conectáveis estão um sistema de jardinagem (que permitiria que plantas sejam regadas a distância), uma cafeteira (que poderia ser acionada remotamente) e uma lâmpada (ligada e desligada a distância). O Google anunciou em maio que até o final do ano outra de suas equipes planejava lançar uma lâmpada conectada à web capaz de se comunicar sem fio com aparelhos com o sistema operacional Android.

Um engenheiro do Google que conhece o Google X disse que as operações do laboratório são misteriosas como as da CIA (Agência Central de Inteligência) --ele contaria com dois escritórios, um para fins logísticos, que funciona sem identificação na sede da empresa em Mountain View, e outro em local sigiloso, para os robôs.

Enquanto as equipes técnicas de outros departamentos do Google são formadas principalmente por engenheiros de software, no laboratório predominam os especialistas em robótica e os engenheiros elétricos. Foram contratados da Microsoft, da Nokia Labs e de universidades como Stanford, MIT, Carnegie Mellon e Universidade Nova York.

Um dos líderes do Google X é Sebastian Thrun, um dos maiores especialistas mundiais em robótica e inteligência artificial, que leciona ciência da computação em Stanford e desenvolveu um carro sem motorista. Outro cientista do laboratório é Andrew Ng, também professor de Stanford, cuja especialidade é a aplicação da neurociência na inteligência artificial para ensinar os robôs e máquinas a funcionar como pessoas.

Johnny Chung Lee, especialista em interação entre computadores e seres humanos, trocou a Microsoft pelo Google X neste ano, depois de ajudar a desenvolver o Kinect, o sistema de controle de videogames que responde a movimentos e voz. No Google X, onde ele trabalha no projeto da web de coisas, de acordo com pessoas que conhecem suas funções, ele tem o misterioso cargo de "avaliador rápido".

Porque o Google X é um campo de desenvolvimento de grandes apostas que podem resultar tanto em grandes fiascos quanto no próximo grande negócio do Google --e descobrir qual das duas pode demorar anos--, a simples ideia dessas experiências aterroriza alguns acionistas e analistas.

"Os projetos exageradamente ambiciosos são bem a cara do Google", disse Colin Gillis, analista da BGC Partners. "As pessoas não adoram, mas toleram, porque o negócio primário da empresa, o de buscas, continua a funcionar com alta lucratividade."

Page tenta apaziguar os analistas afirmando que os projetos mais excêntricos representam pequena proporção do trabalho do Google.

"Existem alguns poucos projetos especulativos, de pequeno porte, acontecendo na empresa a cada momento, mas tomamos muito cuidado na gestão do dinheiro dos acionistas", disse ele a analistas em junho. "Não estamos apostando todo o nosso capital nessas coisas." FONTE: THE NEW YORK TIMES
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